setembro 04, 2007

Sobre estar do outro lado ou De volta da Terra do Nunca



“Oh, Peter, eu tenho que crescer.”
(Wendy)


Quando estamos no colégio, estar com um professor, conversar com ele é algo que nos dá certo prazer. Às vezes o cara é um mala, mas não é isso o que importa. O importante é que ele saiba que você existe e que está ali se dispondo a dar parte da atenção dele a você. Claro que isso não chega a ser um mecanismo de enobrecimento (!) dentro das escolas, mas, pelo que andei observando, até mesmo aqueles alunos que, no auge de sua rebeldia-sem-causa-contra-tudo-e-todos-da-adolescência, gostam de parecer indiferentes a tudo o que os rodeia sentem um certo prazer em estar ali com o professor. Dá pra ver no rosto, no comportamento. E os estágios que tenho feito em colégios têm me ajudado a reparar muito nessas coisas.

Não, isso não é nenhum tópico da ficha de estágio que eu tenho que preencher, nem entra no relatório final. Mas é que eu sempre fui um reparador. Gosto de observar. No final, muitas vezes, acabamos por enxergar coisas que muitos não reparam.

E hoje tive uma experiência bem interessante. Na hora do recreio fui com o professor de História do colégio para a Sala dos Professores e acabei num bate-papo bem descontraído com ele. Logo depois, duas alunas apareceram na Sala e entraram na conversa. Depois ainda mais dois professores da casa se juntaram a nós. E no final das contas, eu me vi sentado em uma mesa batendo-papo com três sujeitos que há quatro anos atrás foram meus professores. Mas o que me deixou mais pensativo nesta conversa foi eu estar do lado deles, e não mais do lado dos alunos. Ao contrário, as meninas ouviam quase que hipnotizadas sobre o mágico dia-a-dia da universidade. E ouviam isso não só daqueles professores, mas também de mim. E me ouviam. E prestavam atenção. E aqueles sujeitos que foram outrora meus professores, em termos de experiências acadêmicas, conversavam comigo naturalmente, como um igual.

Sabe... naquele momento me dei conta de maneira mais profunda, quase fisicamente palpável, das mudanças que vinham acontecendo nos últimos quatro anos. Pensei sobre como um espaço de tempo tão curto pode nos mudar tanto. E não estou falando necessariamente de amadurecimento, não. Não que eu não acredite que eu não tenha amadurecido neste meio-tempo. Mas esse papo de falar da passagem do tempo e se vangloriar de amadurecimentos como se fosse a pessoa mais experiente e madura do mundo, é meio -- por assim dizer -- inconveniente.

O que pensei foi que, nesse curtíssimo espaço de tempo, coisas que eu acreditava, que eu jurava que jamais mudariam em mim se foram. Os recreios viraram intervalos. E eles trouxeram uma série de outras novidades consigo. Pensava que sempre entenderia certas situações, e hoje em dia, por exemplo, tenho que parar e me esforçar para ter o mínimo de tolerância com certos dramas de adolescentes (muitas vezes dramas no sentido teatral da palavra mesmo). Há algum tempo atrás meus pais diziam fazer coisas por mim que um dia eu entenderia. Que era pro meu bem. No final das contas, hoje eu já os entendo. Talvez em muitos casos eu tivesse feito o mesmo que eles. Acho que no final temos em nós mais dos nossos pais do que imaginamos.

Bem, talvez isso seja uma tomada de consciência sistemática de algo que venho percebendo aos poucos, de que a Terra do Nunca não dura para sempre e de que o tempo passa, inclusive para nós mesmos. E de como nem sempre é tão óbvio que o objeto observado, se não muda, pode parecer bem diferente dependendo do ponto de observação em que estamos.

Bem, talvez esse estágio esteja sendo bem mais útil do que simplesmente cumprir uma exigência burocrática do MEC.