Sobre um lugar tri-legal, tchê!
Ontem cheguei de uma viagem de uma semana ao Rio de Grande do Sul. Fiquei com o pessoal da universidade hospedado em Porto Alegre e participamos de um evento em São Leopoldo, cidade mais ou menos próxima de PoA. O hotel em ficamos, no Centro da Cidade, não ficava com certeza nos lugares mais nobres. Próximo à zona de prostituição, era um típico Centro de cidade, com tumulto na rua, sujeira, pichações e desorganizações. Ainda assim, adorei a cidade! As pessoas são educadas, atenciosas, prestativas, interessadas, hospitaleiras, receptivas, bem articuladas, solícitas. Todos os adjetivos que há de melhor eu poderia usar para o pessoal com que tive contato nesta última semana. Mas, por mais que Porto Alegre tenha mais clima de cidade grande que Floripa, o ritmo de vida não é como o do Rio ou de São Paulo, por exemplo.
Alguns mitos foram derrubados nesta semana. Porto Alegre não é uma cidade tão limpa como dizem ser as cidades do Sul. Digo isso, comparando-a com Curitiba e Florianópolis. Não há lixeiras espalhadas pela cidade. Ainda assim, ganha em limpeza do Rio de Janeiro, que tem uma lixeira a cada esquina, ou algo próximo a isso. E, por mais educadas que sejam as pessoas, os gaúchos da capital não dirigem muito bem! Hehehehe A impressão que tive é que, quando fazem curvas, em vez de frearem, aceleram. E muitas vezes há um sinal de trânsito apenas para vários cruzamentos. Tirando isso, a cidade é maravilhosa! Me amarrei mesmo na cidade!!!
Se me permitem mais uma comparação com a minha nefanda experiência catarinense, come-se bem em Porto Alegre, ao contrário do que acontece em Floripa (o sal e o tempero não chegaram lá, acredito). E principalmente: a comida não é cara.
Muito ouvimos falar de separatismo do Sul em relação à Federação. Não vi muito disso, não. Pareceu-me, sim, que, se há algo, deve ser como o pouquíssimo expressivo movimento Guanabara Já aqui no Rio, que visa à (re)criação do Estado da Guanabara, formado apenas pela Cidade do Rio de Janeiro, enquanto os outros municípios continuariam sendo o Estado do Rio de Janeiro. O que encontrei lá, isso sim, foi um fortíssimo sentimento de pertencimento entre eles. Não sei a palavra nativismo pode ser usada, mas é algo muito próximo disso. Nos dias que seguiram o terrível acidente da TAM em São Paulo, as pessoas, pelo menos aquelas com que tive contato, demonstraram-se bastante sentidas com o ocorrido e até nossa volta ao Rio, as bandeiras permaneceram a meio-mastro.
Sobre o tão famoso frio do Rio Grande do Sul? Bem, pelos relatos, ele passou por lá na semana anterior à nossa chegada. Tudo bem que fomos preparados, mas não superou o desesperador frio que conheci em Florianópolis no ano passado. Conseguimos registrar termômetros marcando 1º C, mas sabemos que, descendo de Gramado para Porto Alegre, talvez tenha feito menos porque o frio dentro do ônibus era grande! Bem grande!!!
Palácio Farroupilha
Theatro São Pedro
Logo perto fica a Prefeitura de Porto Alegre e a Biblioteca Pública. Aliás, em termos arquitetônicos, Porto Alegre possui um conjunto que é um desbunde: a própria Prefeitura da Cidade, segundo nativos, recentemente reformada, o Mercado Público, onde encontramos vários artigos típicos e vendedores extremamente atenciosos e onde comprei várias cuias de chimarrão. Uma delas, por sinal, neste momento, está enfeitando a mesa do computador daqui de casa, que, por sua vez, está quase um delicioso depósito antropológico: temos nela um barquinho de madeira de Paraty, uma namoradeira baiana e agora uma cuia de chimarrão! Barbaridade!
Quando forem a Porto Alegre, não deixem de assistir pelo menos duas vezes ao pôr-do-Sol às margens do Rio Guaíba. É lindíssimo! Um encantador espetáculo comparável ao pôr-do-Sol do Arpoador! Além disso, dá ótimas fotos! Acredito que eu tenha sido privilegiado em parte por ter ido a PoA no outono. O cair do Sol atrás das montanhas deixam um borrão magenta no céu e um rastro dourado nas águas calmamente tremuladas do Guaíba.
Pôr-do-Sol no Rio Guaíba
O lado ruim da viagem foi estar sozinho em uma cidade desconhecida. A saudade foi grande. Entre uma lágrima e outra, a vontade de voltar pra casa era enorme, mas descobri que uma semana passa voando e, quando cheguei aqui e vi aquele sorriso encantador e sem igual vindo em minha direção, achei até que a saudade valeu a pena! Estar longe de casa, com saudade de alguém a quem se ama e não poder desabafar com ninguém é muito ruim. É quase desolador estar em meio a amigos, a pessoas de quem gostamos e ainda assim sermos tomados de solidão. É quase um paradoxo. Acredito que a língua inglesa, por mais pobre que seja (que me perdoem seus admiradores, que costumam taxá-la de prática, mas ninguém me convence do contrário), expressa isso em duas palavrinhas distintas: é a diferença entre o estar lonely e o estar alone. Resultado: acabei saindo do armário para uma amiga muito queria. Foi engraçada a reação dela. Não pudemos conversar direito, mas só de poder confiar em alguém e poder ser um mais eu mesmo me fez sentir mais leve e melhor. Mas isso é coisa para um outro bate-papo.
Bah, é isso! Conheçam Porto Alegre. É uma cidade tri-legal, tchê! Garanto que nenhum capuccino vai ser tão gostoso quanto aquele que vai tomar no gostoso frio gaúcho.