janeiro 25, 2007

"Cristo Redentor, braços abertos sobre o Guanabara"



E não é que ele apareceu? 25 de janeiro. Quinta-feira. Cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro.

O mais belo Sol de janeiro chegou no dia em que Tom Jobim, o pai da Bossa Nova, completaria 80 anos. Há como pensar Rio de Janeiro sem Bossa Nova, sem Garota de Ipanema ou sem as Águas de Março que fecham o verão? E há como pensar em beleza sem Bossa Nova? Não creio. Mais do que um simples gênero musical, Bossa Nova é um estado de espírito. É uma leveza lírica e poética. E a vida sem lirismo e poesia é para os bárbaros.

Pena que data tão linda e festejada não tenha sido no dia 20 de janeiro, dia de São Sebastião, Padroeiro do Rio de Janeiro, ou no dia 1º de Março, aniversário da Cidade Maravilhosa. Chega a ser quase um sacrilégio que o grande Jobim faça aniversário no mesmo dia em que São Paulo. E como já bem disse Cesar Maia, Prefeito do Rio: "Que me perdoem as feias, mas beleza é fundamental."

Aniversário de Tom Jobim. Festa nossa!
Parabéns, Rio!

Cristo Redentor
Braços abertos sobre a Guanabara
Este samba é só porque
Rio, eu gosto de você
A morena vai sambar
Seu corpo todo balançar
(Samba do avião - Antônio Carlos Jobim)

janeiro 22, 2007

Isso é bossa nova, isso é muito natural...


Foto por mim mesmo

Uma semana repleta de
Bossa Nova para todos nós!

DESAFINADO
Tom Jobim

Se você disser que eu desafino, meu amor
Saiba que isso em mim provoca imensa dor
Só privilegiados têm ouvido igual ao seu
Eu possuo apenas o que Deus me deu

Se você insiste em classificar
Meu comportamento de antimusical
Eu mesmo mentindo devo argumentar

Que isso é bossa nova

Isso é muito natural
O que você não sabe nem sequer pressente
É que os desafinados também têm um coração
Fotografei você na minha Rolleyflex
Revelou-se a sua enorme ingratidão

Só não poderá falar assim do meu amor
Este é o maior que você pode encontrar, viu
Você com a sua música esqueceu o principal
Que no peito dos desafinados
No fundo do peito bate calado
Que no peito dos desafinados
Também bate um coração

janeiro 07, 2007

Amado amigo Jorge,

depois de um maravilhoso mês, e já
com
muita saudade, é que lhe aviso que já está de retorno para a cidade do Salvador da Bahia a sua mais bela filha, Flor, digo... dona Flor, "como compete a uma senhora casada". Passamos uma deliciosa temporada aqui no Rio. Comigo, dona Flor conheceu muitíssimos lugares e juntos, diariamente, tomamos o trem, por vezes cheio e difícil de se acomodar, mas ela, em soberba graça, de nada reclamou, contando-me de sua deliciosa história, regada a dendê e mistérios.

E não só ela me acompanhou por estas terras fluminenses. Doutor Teodoro Madureira, tão culto e cioso de erudição, adorou esta cidade, ressentindo-se apenas de nossa grande desorganização de metrópole global ("Um lugar para ca
da coisa e cada coisa em seu lugar"); Já Vadinho... ah, seu Jorge, este deu trabalho! Dona Flor segredou-me não ser a primeira vinda de Vadinho ao Rio. Viera há algum tempo, antes daquele fatídico e triste domingo de carnaval. Estivera aqui com seu amigo e compadre Mirandão, pelo que dizem, boníssima pessoa.

Pois bem, como outrora, Vadinho só quis saber de esbórnia. Em suas esperas pelo porreta, Dona Flor me contou de seus dramas, desde moça solteira, na Ladeira do Alvo, quando Vadinho ainda sustentava ser alto dignitário da política baiana... Vadinho mais maluco! Contou-me também de suas tristezas, depois de casada, a esperar pelo marido até o amanhecer, às vezes, por dias!, até que ele chegasse de suas farras nos cassinos e castelos da Bahia. Contou-me de sua solitária noite de núpcias, deixada que fora pelo marido. Este, rumo ao jogo... E os castelos? Ah, os castelos... Doeu-me o coração o medo de Flor... opa! Perdão, de dona Flor... doeu-me o coração o medo de dona Flor em perder o marido para uma casteleira qualquer. Mas para ele -- e ele mesmo me disse! --, mulher a amar, só dona Flor ("É tudo xixica pra passar o tempo. Fixa só tu, minha flor de manjericão!").

Contou-me de seu luto, de seu sofrimento, daquele domingo de carnaval que a levou a fechado luto.

Mas dona Flor contou também de suas alegrias. Das surpresas de Vadinho, de suas serenatas de amor, de suas qualidades de amante, de seus ais de amor... ("
Ai, Vadinho mais tirano, Vadinho mais maluco..."). Quase não coubemos todos na mesma cama! Vadinho só queria saber de vadiar mais sua Flor. Noites movimentadas, seu Jorge! Noites movimentadas com Vadinho em luta constante contra a pudicícia de dona Flor ("Onde já se viu vadiar de camisola? Por que tu te esconde? A vadiação é coisa santa, foi inventada por Deus no paraíso, tu não sabe?"). Um porreta esse Vadinho! Enquanto isso, doutor Teodoro dormia o sono dos justos, de homem honesto e trabalhador. O oposto de Vadinho, jogador e vagabundo, um adorável vagabundo! E que lábia! Quase me leva os trocados da carteira!

Do segundo casamento?! Como poderia ela não contar? Da estabilidade, do afeto constante e presente de doutor Teodoro com seu anel de grau no dedo, de sua estabilidade financeira, de sua animada e sofisticada vida social pelas mais altas rodas da Bahia. Contou-me do fagote de doutor Teodoro e ele mesmo demonstrou para mim suas habilidades de músico amador. Toca como um anjo! Quis conversar comigo sobre assuntos da Farmacologia, pediu-me opiniões, mas não entendo do assunto. Cá entre nós, amigo Jorge, não é dos mais interessantes, não?

E da mesma forma que me contou das delícias e amarguras do primeiro casamento, comentou comigo sobre a excessiva monotonia do segundo matrimônio. Muito metódico doutor Teorodo Madureira. Vida marcada por calendário, a cumprir o papel de esposo apenas duas vezes por semana, às quartas e aos sábados. Amor discreto na cama . Senti certa decepção quando me contou das convicções ideológicas de Doutor Teodoro: "Para a descaração, para o desembestado gozo, o prazer do corpo, existiam as putas e para isso cobram. Com elas sim, em lhes pagando, pode-se soltar os freios da luxúria sem lhes causar ofensa ou pena (...) Com a esposa nunca, para ela a discrição, o amor puro, belo e digno (e um tanto insoso): a esposa é a mãe de nossos filhos". Se não mais sentia a insegurança e os medos de outrora, faltava-lhe ainda alguma coisa... Contou-me da volta de Vadinho ao completar um ano do segundo matrimônio, ao seu leito de ferro ("Onde já viu finado em leito de ferro a vadiar, de novo sendo? Onde?").


E fiquei então confuso: não sabia se deveria apresentá-la aos amigos como Florípedes Madureira ou como Florípedes dos Guimarães... Na dúvida, optei apenas pelo belo e singelo "dona Flor", a mais bela flor da Bahia, a mais bela filha do grande e amado Jorge, baiano arretado!

Já quase de partida para Salvador, ela me contou do feitiço para que Vadinho fosse embora, feito a seu pedido pela comadre Dionísia de Oxossi, pelos candomblés da Bahia. Que despautério esse medo de manchar a honra de mulher casada e decente, de ser assunto das comadres fofoqueiras, de enfeitar a testa do doutor, não acha? Como dona Dinorá, Dona Rozilda e as comadres fofoqueiras e malevolentes poderiam saber se Vadinho era só dela, se por ela voltara de onde não se volta? Contou-me da luta entre os orixás. Exu sozinho a defender Vadinho contra o panteão africano. E me relatou em detalhes Vadinho, "território de combate na guerra dos santos, despojo dos orixás, egun sem cemitério", a retornar para o seu leito de vadiação. Falou-me de seu amor, de seu desejo a trazê-lo de volta, rompendo a força do feitiço, sobrepondo-se à vontade dos orixás. Precisava ver, amigo Jorge, a expressão de seu rosto, misto de moça pura e de mulher madura para os prazeres do corpo, ao contar sobre quando se deu conta de que Vadinho completava sua felicidade: doutor Teodoro, o amor-terno, o carinho, a segurança, as manhãs ensolaradas de domingo; Vadinho... Ah, Vadinho era o desejo, o amor-amante a levá-la ao delírio e a mergulhá-la em ais de amor, era a noite ardente, a desordem, a vadiação sem hora certa ou local apropriado... Dona flor, feliz com seus maridos. Completa.

Bem, amigo Jorge, vou me despedindo por aqui. Peça que Flor (ah, seu Jorge, já somos amigos para tais intimidades!) que me escreva para contar das novidades de seus casamentos, de seus amores. Mande o senhor lembranças ao porreta do Vadinho! A qualquer hora dessas, vamos à Bahia para apreciar os quitutes de Flor e acompanhar um ensaio da Orquestra dos Filhos de Orfeu. Doutor Teodoro já disse que faz questão de que assistamos a um de seus ensaios com o fagote.

Um grande abraço,
Leandro.


"- Vejam como se vai rebolando. A cara séria, mas as ancas -- olhem aquilo! -- soltas, até parece que alguém está bulindo nelas... Um felizardo esse doutor...

Do braço dado do marido felizardo, sorri mansa dona Flor: ah!, essa mania de Vadinho ir pela rua a lhe tocar os peitos e os quadris, esvoaçando em torno dela como se fosse brisa da manhã. Da manhã lavada de domingo, onde passeia dona Flor, feliz da sua vida, satisfeita com seus dois amores..."

janeiro 02, 2007

Seja bem-vindo, 2007! Se acomode por aí que você já é de casa!



E as insistentes chuvas de dezembro levaram 2006, mesmo que sob seu protesto, insistente e inescrupuloso, não deixando -- e não querendo -- que o áureo 2007 chegasse.

Mas ele chegou! E chegou belo, festejado e ansiosamente esperado. No meu caso, pensando bem, devo confessar, não sei ao certo se minha efusiva comemoração à meia-noite deveu-se à chegada de 2007 ou à ida do outro. 2007 foi, entretanto, devidamente festejado! E em alto estilo: Copacabana como cenário, no mais belo -- digo sem receio!-- réveillon das Américas, sob as bençãos de Iemanjá.

Com palmas oferecidas a Iemanjá em agradecimento e renovações de pedidos, e regado a muita sidra, o réveillon teve direito até mesmo a um súbito e discreto flagra, com esses olhos que a terra um dia há de comer, ao -- há então poucos minutos -- ex-primeiro-cidadão (pra não falar, ex-governador-extra-oficial...) Antonhy Garotinho, acompanhado de uma tremenda loiraça, em uma rapidíssima -- e, por que não?, quase clandestina -- saída de um prédio na Joaquim Nabuco, entre Copacabana e Ipanema. Onde será que estava a -- também há pouquíssimos minutos ex-governadora -- Rosinha Garotinho??? Aonde o ex-primeiro-cidadão ia com tanta pressa, como que temeroso dos olhares públicos? Enfim... quem sou eu, humilde cidadão, para me meter na vida conjugal do casal Garotinho, não?

Entre fofocas políticas, garrafas de sidra, palmas pra Iemanjá e coloridíssimos fogos, 2007 chegou, belo, uma flor de formosura!

Que este seja um ano maravilhoso pra todos vocês, amiguinhos! Para todos nós!
E será!
=)